sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Naming Rights no Brasil: O Que Impede Seu Desenvolvimento?

Com a vinda da Copa do Mundo para o Brasil em 2014, e a inauguração de novas arenas pelo país, um tema bastante abordado ultimamente é o Naming Rights, ou Direitos de Nome, em uma tradução livre para o português.

O Naming Rights nada mais é do que a concessão do nome de um estádio ou arena para uma marca em um contrato de longo prazo. É muito praticado no EUA (principalmente nos estádios de Beisebol, Basquete e Futebol Americano) e na Europa (especialmente nos estádios de futebol), mas que ainda está engatinhando em nossas terras tupiniquins. Com o “boom” das arenas pelo país, até o momento somente três arenas fecharam contrato de naming rights: a Itaipava Arena Fonte Nova, Itaipava Arena Pernambuco e Allianz Parque do Palmeiras.

Um dos benefícios do Naming Right é transformar a Arena/Estádio em um ponto de venda gigantesco da marca patrocinadora em dias de jogos, ou nos dias que não há, ofertando produtos e serviços, realizando interações com os consumidores/torcedores, proporcionando experiências para os mesmos, com entretenimento, ações promocionais, ações de comunicação, ingressos, etc.

Além dessas vantagens, esse negócio é uma poderosa ferramenta de comunicação midiática para a marca, e para maioria, é o principal benefício do Naming Rights, pois o nome da marca atinge um público muito maior, porque vai além dos torcedores frequentadores do estádio (da interação que eu citei anteriormente) que, evidentemente, dependerá da capacidade de público da arena/estádio. Imagine então cada transmissão de TV, rádio, internet, notícias, relações públicas em geral, etc. citando o nome do estádio, na verdade o nome da marca! E é nesse ponto que os investidores estão receosos, apesar de não exporem isso publicamente, conforme explico a seguir.

A rede Globo de televisão, detentora dos direitos de transmissão de TV aberta e parte da TV fechada do país, inclusive pay-per-view, tem a política de não citar outras marcas que não sejam seus patrocinadores. Ou seja, se o nome da marca do estádio ou arena não for também patrocinador da TV Globo, este nome não será citado.

As empresas que se interessam em negociar um Naming Right costumam esbarrar-se nesse problema, pois irão investir altos valores para não ter todo potencial que este investimento pode oferecer, já que a maior emissora de TV do país, detentora dos direitos de transmissão das partidas, simplesmente não irá citar os nomes de suas marcas.

Exemplo disso aconteceu no Mundial de Clubes FIFA 2011, no qual o Santos F.C. jogou na cidade de Toyota, no estádio com nome também de Toyota, e sabe como a Globo citou a cidade e o estádio? Cidade de Nagoya e estádio de Nagoya, uma cidade localizada a quilômetros de distância do local real. Preferiram dar uma informação errada a citar a marca Toyota, pois o futebol da Rede Globo é patrocinado por outra marca de automóveis.

Aqui no Brasil também temos exemplo disso, o caso da Arena da Baixada do Atlético-PR, um exemplo de arena moderna, primeiro negócio de Naming Right no Brasil, bem antes de todas as Arenas que estão sendo construídas pelo Brasil afora para a Copa do Mundo, na verdade se chamava Kyocera Arena entre 2005 e 2008. Veja que eu citei Arena da Baixada, é o nome que a mídia sempre citou, e é o nome que “pegou”.

Kyocera Arena - 2005 a 2008

Outro problema do Naming Rights no Brasil são os nomes clássicos dos estádios brasileiros. Como uma marca irá sobrepor um nome como Maracanã ou Beira-Rio? Esses nomes já tem uma marca forte, já estão na mente dos torcedores/consumidores, e sempre serão lembrados por seus nomes clássicos. O Mesmo ocorre com novas Arenas que ainda não possuem Naming Rights, como é o caso da Arena Corinthians, que já está sendo chamada de “Fielzão” e provavelmente, o nome ficará na mente do consumidor esportivo.

O que se pode fazer, nesse caso, é colocar o nome da marca juntamente com o nome do estádio clássico, como “Estádio (nome da marca X) Maracanã” ou “Estádio (nome da marca X) Beira-Rio”. Mas para esses casos, eu recomendaria pesquisas para detectar a percepção do consumidor esportivo sobre esses nomes e o impacto que eles poderão realmente ter.

Visto esses problemas, acredito que o maior problema de fato encontra-se na posição que a TV Globo está tomando. Ela afirma estar protegendo seus patrocinadores, afinal eles que pagam para que a transmissão aconteça, e podemos entender isso, obviamente. Mas, e o direito de imagem da marca da Arena onde fica? E a informação correta? Devo ser chamado pelo meu nome corretamente, certo? Esta é uma discussão ferrenha que só tem uma solução a meu ver: A união dos clubes brasileiros. Se eles se unirem e colocarem em pauta na próxima renovação de direitos televisivos a citação dos Naming Rights, será um grande passo. Se a Globo não quiser, pode ter certeza que a Rede Record, ou outra, estará pronta para aceitar esses termos. Nada como uma boa concorrência.

Suponhamos que a Globo aceite citar as marcas reduzindo o valor da cota para os clubes que possuam Naming Rights, Vale a Pena? Provavelmente sim, pois dependendo do valor, o Naming Right cobre a diferença e ainda sobra um valor muito interessante, que pode ser maior ainda do que os avaliados hoje, com a TV citando o nome da marca a valer.
Infelizmente a união dos clubes, o “Clube dos 13”, foi dissolvido pela TV Globo, que passou a negociar os contratos televisivos diretamente com cada clube, se não, os clubes certamente teriam mais força para incluir a citação dos Naming Rights no contrato de transmissão da TV.

Fica então a dica para os cartolas brasileiros, pois o Marketing Esportivo e os negócios envolvendo o futebol, que agregam receita de patrocínio para os clubes, estão claramente deixando de crescer por esses motivos apresentados. Lembrando sempre que a união faz a força!

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